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Antioxidantes Nutricionais - Vitamina A

Vitamina A é o termo genérico que designa qualquer composto que possui atividade biológica de transretinol, enquanto o termo “retinóides” inclui as formas de vitamina A e os muitos análogos sintéticos do retinol, com ou sem atividade biológica 23 . O valor biológico relativo dessas várias substâncias precursoras é comumente expresso em Equivalentes de Retinol (ER) 24 .

A vitamina A é um nutriente essencial, requerida em pequenas quantidades em importantes processos biológicos. Seu papel no ciclo visual foi estabelecido por Wald em 1935 25 e parece ser o único totalmente elucidado – prevenção da cegueira noturna (nictalopia). Participa também na reprodução, no desenvolvimento fetal, na função imune, regulação da proliferação e diferenciação de muitas células, especialmente tecido epitelial 26 .

Ainda que as necessidades diárias de vitamina A sejam pequenas (quadro 3) comparada a disposição deste nutriente nos alimentos, a deficiência de vitamina A é atualmente uma das três deficiências nutricionais combatidas em todo o mundo. As outras são anemia ferropriva e bócio (deficiência de ferro e iodo, respectivamente) 24 .

Quadro 3 – Necessidades nutricionais de Vitamina A para adultos 27

Idade

Sexo

EAR( m g )

RDA ( m g )

UL ( m g )

19 anos em diante

Homens

Mulheres

625

500

900

700

3000

3000

Nota:

EAR (Estimated Average Requirement): é o valor estimado da ingestão de um nutriente que cobre o requerimento da metade dos indivíduos saudáveis dentro do mesmo grupo etário e do mesmo sexo.

RDA (Recommended Dietary Allowances): é o nível de ingestão suficiente para alcançar os requerimentos de quase todos (97-98%) os indivíduos saudáveis em uma determinada condição fisiológica e faixa etária.

UL (Tolerable Upper Intake Levels): é o nível mais alto de ingestão diária de um nutriente, com menos probabilidade de risco de feitos adversos à saúde na maioria dos indivíduos.

A deficiência de vitamina A pode ser causada pela persistente ingestão

inadequada do nutriente, condição exacerbada pela insuficiente ingestão de gordura na dieta, dificultando sua absorção intestinal, ou também por episódios infecciosos persistentes, especialmente àqueles referentes ao epitélio muco secretor em crianças 28 .

As formas metabolicamente ativas de vitamina A incluem as formas de pré-vitamina A, o retinal e o ácido retinóico. São encontrados somente em alimentos de origem animal, em áreas de depósito, como fígado ou, por ser uma vitamina lipossolúvel, associada a gordura, como na manteiga, leite integral e ovos. A vitamina A é encontrada em doses terapêuticas em óleo de fígado de bacalhau e de hipoglosso (tipo de peixe). Várias substâncias denominadas por carotenóides (pró-vitamina A) são convertidas em vitamina A no organismo em diferentes graus de eficiência. Atualmente foram identificados mais de 600 carotenóides, sendo o mais ativo o b caroteno 23 . (figura 2)

Figura 2 – Alguns carotenóides encontrados nos alimentos

 

Os carotenóides são corantes naturais. São pigmentos amplamente distribuídos na natureza, responsáveis pelas cores laranja, amarela e vermelha das frutas, tubérculos, flores, invertebrados, pescados e pássaros 9

. A cor e as atividades antioxidantes dos carotenóides são conseqüência de sua estrutura única, um sistema extendido de duplas ligações conjugadas. Quando expostos a RL, como os formados durante a peroxidação lipídica, perdem a cor, o que indica que estes pigmentos interceptam radicais livres. 29

Os carotenóides de maior expressão na dieta, além do b caroteno, são o a caroteno, luteína e zeaxantina, b criptoxantina e licopeno.

As fontes alimentares de alguns carotenóides estão listadas no quadro 4

Quadro 4 – Fontes alimentares de carotenóides ( m g/100g) 23

Alimento

b caroteno

a caroteno

Luteína/zeaxantina

Licopeno

Criptoxantina

Damasco, seco

17600

0

0

864

0

Brócolis, cozido

1300

1

1800

0

0

Cenoura, cozida

9800

3700

260

0

0

Milho verde

51

50

780

0

0

Manga

1300

0

0

0

54

Laranja

39

20

14

0

149

Papaia

99

0

0

0

470

Espinafre, cozido

4100

0

10200

0

0

Suco de tomate

900

0

330

8580

0

Tomate cru

520

0

100

3100

0

Carotenóides, como o b caroteno, podem reagir múltiplas vezes com radicais peroxila (LOO.) para formar moléculas estáveis. Acredita-se que uma única molécula de b caroteno possa reagir com até 1000 radicais superóxido, antes de ser oxidada e perder suas propriedades antioxidantes 30 . Esta grande capacidade de seqüestrar radicais livres impulsionou vários estudos a avaliarem a ação de suplementos de carotenóides e pré-vitamina A em diversas doenças. Especialmente com relação ao câncer de pulmão os resultados foram surpreendentes e inesperados. Em um estudo finlandês 31 o grupo (n=14564) tratado diariamente com b caroteno (20mg) por 5 a 8 anos, com ou sem alfa-tocoferol, apresentou incidência significativamente maior de câncer de pulmão (risco relativo = 1.18; 95% de intervalo de confiança = 1,03-1,36) e da mortalidade total (risco relativo = 1,08; 95% de intervalo de confiança = 1,01-1,16) do que o grupo placebo (n=7287). Em outro grande estudo de intervenção “O Ensaio de Eficácia do Caroteno e do Retinol” (CARET) 32 também apontou risco aumentado de câncer de pulmão no grupo de fumantes que recebeu 30mg/dia de b caroteno e de éster de retinila (25000UI/dia). Este estudo, particularmente, foi interrompido após 4 anos, pois o aumento de câncer de pulmão aumentou cerca de 28% no grupo em tratamento.

Vários estudos epidemiológicos, porém, apresentam relação inversa entre ingestão alimentar e níveis séricos de carotenóides e doenças crônicas, especialmente câncer. Quadro 5. A ingestão de megadoses de vitamina A sugerem efeito adverso comparada com a ingestão alimentar adequada por meio de alimentos.

Quadro 5 – carotenóides e alguns tipos de câncer (Ca)

Tipo de carotenóide

 

Autor

N/ sexo

Associação com desfecho

Resultado

Licopeno

Erhardt,JG et al,2003 33

 

165

Homens e Mulheres

 

Níveis séricos de licopeno e

Ca de cólon

 

Concentração de licopeno <70 m g/L fator de risco para pólipos adenomatosos

 

Luteína

Stattery,ML et al, 2000 34

 

2410 Homens e Mulheres

 

Níveis séricos de carotenóides e Ca de cólon

 

Luteína inversamente associada ao Ca Cólon. Sem associação com os demais carotenos

 

Alfa-caroteno

Licopeno

Michaud,DS et al,2000 35

 

46924 Homens

77283 Mulheres

 

Ingestão de carotenos e

Ca de pulmão

 

­ Consumo de a caroteno e licopeno = ¯ incidência de Ca pulmão, principalmente em não fumantes

 

Carotenóides

Terry,P et al, 2002 36

 

1589 Mulheres

 

Ingestão de carotenos e

Ca de mama

 

Sem associação

 

Carotenóides

Nkondjock,A; Gnadirian,P, 2004 37

843 Mulheres

 

Ingestão de carotenos e

Ca de mama

 

Consumo de carotenóides + Omega 3 - ¯ risco de Ca de mama

 

Beta-caroteno

Licopeno

Wu,K et al, 2004 38

 

900 Homens

 

Ingestão de carotenos e

Ca de próstata

 

Licopeno- ¯ incidência de Ca de próstata (acima de 65 anos, sem história familiar)

Homens jovens se beneficiaram com dietas ricas em Beta-caroteno na prevenção de câncer de próstata

 

De acordo com os estudo epidemiológicos, alguns carotenóides especialmente o licopeno e luteína/zeaxantina, apresentam efeito terapêutico contra câncer de próstata e contra a degeneração macular associada a idade, respectivamente.

O licopeno é um potente antioxidante presente principalmente no tomate e os derivados de tomate. Frutas de coloração vermelha como goiaba e melancia também contém licopeno. Em uma meta-análise 39 realizada com 11 estudos caso-controle e 10 estudos de coorte, identificou-se que a ingestão de tomate cru ou derivados do tomate diminuem o risco relativo do desenvolvimento de câncer de próstata. A partir da análise de estudos de coorte a ingestão diária de 200g de tomate vermelho cru foi associada a redução de 22% de risco de câncer de próstata (risco relativo = 0,78 (95% de intervalo de confiança = 0,66-0,92). Quando analisado o consumo de licopeno e risco para câncer de próstata a média dos estudos demonstrou a redução de 10% de risco no grupo com maior consumo deste carotenóide. Gráfico 1

Em estudo recente 40 , comparando portadores de degeneração macular com indivíduos sadios, os indivíduos situados no quintil mais elevado da ingestão de carotenóides apresentaram um risco 43% menor (RR=0,57;95% intervalo de confiança = 0,35-0,92) de sofrer de degeneração macular do que aqueles no quintil mais reduzido. Dos diversos alimentos contendo carotenóides, a ingestão de espinafre e hortaliças de cor verde, ricos em luteína e zeaxantina, foi mais fortemente associada ao risco reduzido.

 

Gráfico 1 – Risco relativo e 95% de intervalo de confiança de estudos com alta ingestão de licopeno e câncer de próstata. 39

   

 

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